sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

NOTÍCIAS SOBRE A CONFERÊNCIA CLIMÁTICA

O presidente dos EUA, Barack Obama, disse nesta sexta-feira (18) no encerramento da Conferência do Clima que o mundo precisa imediatamente de um acordo sobre como deter o aquecimento global, mesmo que não seja perfeito.

Um dia antes, o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, declarou que a conclusão de um acordo sem sentido sobre o clima seria "muito pior" do que voltar de Copenhague de mãos vazias.

Falando logo após o presidente Lula no encerramento da COP 15, em Copenhague, Obama disse que os países devem tomar "ações imediatas e conjuntas" contra as mudanças climáticas.

"O tempo de falar acabou", disse Obama.

"A questão é se vamos seguir em frente juntos ou nos dividirmos", afirmou. "Esse não é o acordo perfeito e nenhum país vai conseguir tudo o que quer. Vamos continuar discutindo os mesmos argumentos mês após mês, ano após anos... enquanto o perigo da mudança climática cresce de forma irreversível.

Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por sua vez, disse nesta sexta-feira (18) na plenária do último dia da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP 15) que o Brasil está disposto a oferecer dinheiro para um fundo internacional de financiamento de medidas de adaptação e redução de emissões nos países pobres. “Se for necessário o Brasil fazer um sacrifício a mais estamos dispostos a participar do financiamento”, disse.

Dias antes, sua ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, havia rejeitado a possibilidade de o Brasil contribuir.

Lula abriu seu discurso, antes do presidente americano Barack Obama também discursar e afirmar que o mundo precisa imediatamente de um acordo, mesmo que ele não seja perfeito.

Dizendo querer chegar a um consenso, Lula afirmou que compreende que os países ricos não "serão os salvadores dos países em desenvolvimento" e que o aquecimento global pode atrapalhar o desenvolvimento do Brasil. "Passamos um século sem crescer enquantos outros cresciam muito. Agora que nós começamos a crescer, não é justo que voltemos a fazer sacrifício."

O presidente brasileiro foi enfático ao afirmar que estava frustrado com os resultados obtidos até agora. O tom de crítica dominou a fala de Lula. "Confesso que estou um pouco frustrado porque discutimos a questão do clima e cada vez mais constatamos que o problema é mais grave do que nós possamos imaginar"

FONTE: www.pe360graus.com

CONSIDERAÇÕES ACERCA DO CALVINISMO E A POLÍTICA

Pequena Biografia de Calvino e conceitos básicos do pensamento Calvinista
Falar de Calvino é estar referindo-se a uma das mais célebres personagens do movimento reformador pelo qual passou a Europa e depois os países não-europeus após a Reforma Protestante.
Seu evangelismo contemporâneo, ou mesmo um pouco posterior, ao início da ortodoxia luterana, não pode ser agrupado nesta mesma ortodoxia. Seu evangelismo tinha como foco a afirmação contra a hostilidade do Estado, por contrariedade eli­tista, e, portanto, humanista. Calvino representou a ortodoxia deste segundo evangelismo. Segundo Chaunu (1993), o “processo de passagem do evangelismo dos anos trinta, a oeste, para uma forma exigente de ortodoxia, é dominado por esta personalidade e esta inteligência excepcionais” (p. 200).
A obra de Calvino inte­gra na Reforma, humanista e sistematizada, a soteriologia luterana. Sendo assim, imprime ao humanismo reformado a dimensão essencial que lhe faltava. Fora isso, Calvino atribui ao protestantismo a eclesiolo­gia sistemática que Lutero tinha negligenciado e recusado. Ora, sem a colaboração possível de um Estado que se substitua à Igreja, a ecle­siologia calvinista é uma condição de duração e de sucesso. Daí a ligação estreita entre o calvinismo e a política. Nas Insti­tutas está o modelo de todas as confissões da segunda geração, dominada por esta construção tal como a primeira geração tinha sido dominada pelo gênio nascente e florescente de Lutero. Dessa forma, devido à profundidade e grandiosidade de sua obra, torna-se necessário determo-nos alguns instantes nesta personagem que muito contribuiu para o desenrolar da Reforma Protestante.
João Calvino, o picardino, é homem da Europa numerosa (estima-se que em sua época a Europa possuía entre 40 a 60 habitantes por quilômetro quadrado). Nasceu em Noyon, um quarto de século após Lutero (vinte e seis anos para ser exato), em 10 de Julho de 1509. Sua cidade era episcopal e dominada por um dos pares eclesiásticos da França.
De acordo com Chaunu (1993)
A França nume­rosa, no início do século XVI, encontra-se em pleno desenvolvimento. A Saxónia (sic.) de Lutero assiste ao Outono da Idade Média. Apesar de os contextos conjunturais serem opostos, o meio social é próximo. O meio de Calvino é um pouco mais afastado do trabalho manual. Os “Cal­vino” atingem um nível mais elevado que os “Lutero”, podemos mesmo dizer que vinte anos os separam na ascensão social a partir de um meio popular. Mas aquilo que é importante nos dois casos é a movi­mentação social. O take off social é pago ao preço de duras tensões e de grandes esforços para todos. (p. 201)
Vemos tanto em Calvino como em Lutero a personalidade dominante do pai. Seu pai, Gerad Cauvin, proveniente de um meio de artesãos e de barqueiros, ascendeu socialmente devido às suas funções. Foi escrivão da cidade, jurista, (como bom picardino que era). Ascendeu à burguesia, fazendo um bom casamento numa burguesia com ascendentes. Jeanne Lefranc deu-lhe quatro filhos e duas filhas. Este escrivão executou funções de advogado junto do provisorado e relacionou-se com o meio aristocrático (cf. Chaunu, 1993). Os favores do conde-bispo de Paris valem a João Calvino um benefício com a idade de doze anos, que lhe permite estudar com poucas des­pesas. Não se têm muitas informações sobre a mãe de Calvino. Jeanne Lefranc faz com que o jovem João participe nos comoventes exercícios de uma devoção popular minu­ciosa e leva-o freqüentemente à abadia de Ourscamp, a venerar as relíquias de Sant'Ana. Lindberg (2001) aponta que “sua mãe morreu quando ele tinha em torno de 5 ou 6 anos de idade” (p. 298). Dessa forma, tal como no caso de Lutero, mesmo que por razões diferentes, a influência feminina é reduzida.
Em agosto de 1523, Calvino teve seus estudos iniciados na Universidade de Paris. Lá ele aprendeu latim, filosofia e dialética, chegando a distinguir-se como humanista. Biéler (1990) aponta que
Mais fortemente influenciado pelos humanistas e partilhando dos gostos e das tendências da aristocracia, neste momento, não pode ele ter senão profundo desdém para com estes agitadores religiosos, que, encorajando as aspirações do povo inculto, fomentam uma revolução que visa à desagregação das instituições, pois que, se o reformador humanista é aberto às idéias novas, em contrapartida, mostra-se muito conservador no que concerne às instituições eclesiásticas e às estrutu­ras sociais; não deixa ele de, por vezes, extravasar seu desprezo para com o poviléu agitado e ignorante (p. 120).


Encaminhado para a teologia por seu pai, Calvino foi enviado para uma capela da Catedral de Noyon, depois para a paróquia de Marteville e depois direcionou-se para o estudo do direito. Entre os anos de 1528 e 1533, freqüentou as universidades de Orleans e de Bourges. Publicou sua primeira obra chamada de "Dois livros sobre a Clemência ao Imperador Nero" em 1532, onde comentou o pensamento de Sêneca sobre a clemência.
Aos poucos, Calvino aproximou-se das questões morais e religiosas e do pensamento de Lutero, o reformador da Igreja Católica na Alemanha e em 1533, sua distância em relação ao catolicismo tornou-se pública. Neste período redigiu um discurso contendo matéria religiosa considerada herética. Em 1535, concluiu sua obra mais famosa, as "Institutas da Religião Cristã", a qual rendeu-lhe grande prestígio.
De acordo com Gonzalez (1995)

Seu principal projeto era um breve resumo da fé cristã do ponto de vista protestante. Até então, quase toda literatura protestante, chegava pela urgência da polêmica, e assim tratava somente dos pontos em discussão, e havia dito pouca coisa sobre outras doutrinas fundamentais do cristia­nismo, como por exemplo a Trindade, a Encarnação, etc. O que Calvino se propunha então era cobrir esse vazio com um breve manual ao qual deu o título de Institutas da Religião Cristã (p.110).

Em 1538 foi convidado a ensinar teologia e passou a viver em Genebra, unindo-se ao reformador Guillaume Farel. Uma tentativa malsucedida de implantar os costumes reformados acabou causando celeuma e levando Calvino ao exílio, no mesmo ano.
Ao mudar-se para Estrasburgo, em agosto de 1540, casou-se com a viúva Idelette de Bure, com quem viveria por nove anos. Com a morte da esposa, Calvino seguiu cuidando dos filhos dela. Em 1541 retornou a Genebra, onde criou um modelo institucional para a Igreja reformada. Publicou as suas "Ordenanças Eclesiásticas" neste mesmo ano. A partir daí, ocupou-se com o aprimoramento e a difusão da nova doutrina, visando expandi-la para outros centros europeus.
Em seus últimos anos, estava com a saúde debilitada. João Calvino morreu no dia 27 de maio de 1564, após um acesso de hemoptise, expectoração sanguínea ou sanguinolenta através da tosse, proveniente de hemorragia na árvore respiratória.
Não sabemos o motivo correto que levou Calvino a abandonar a fé romana, pois diferente de Lutero, Calvino falou muito pouco sobre seu estado interior e as razões que o levaram a adotar a fé protestante.

Em 1534, se apresentou em sua cidade natal de Noyon e renunciou aos benefícios eclesiásticos que seu pai havia con­seguido e que eram a sua principal fonte de sustento econô­mico. Se ele já estava decidido nesse momento, a abandonar a igreja romana, ou se esse ato foi simplesmente um passo a mais na sua peregrinação espiritual, nos é impossível saber. O fato é que em outubro de 1534 Francisco I, até então relativamente tolerante com os protestantes, mudou sua política e, em janei­ro do ano seguinte, Calvino se exilava na cidade protestante de Basiléia (GONZALEZ, 1995, p. 110).
Calvino foi autor de várias obras, e segundo Weber, “o Calvinismo foi a fé sob a qual se desenrolaram as grandes contendas políticas e culturais dos séculos XVI e XVII nos países mais desenvolvidos – Holanda, Inglaterra e França” (2001, p. 75). Por isso, nas linhas que se seguem, tentaremos comentar um pouco sobre as apropriações do calvinismo no campo da política e no contexto das lutas sociais.

Os Cinco Pontos do Calvinismo

Antes de falar sobre as contribuições e apropriações do calvinismo no campo da política, gostaria de me deter aos chamados cinco do calvinismo, como forma de apresentar uma breve idéia do que os calvinistas compreendiam como sendo as doutrinas básicas sobre a salvação, definidas pelo Sínodo de Dort.[1] Os cinco pontos do Calvinismo, talvez, sejam o resumo mais conhecido da cosmovisão reformada.

Reymond (1998), define da seguinte forma o primeiro ponto: denominado de Depravação Total, aborda o fato de que tanto por causa do pecado original, como pelos seus próprios atos pecaminosos, toda a humanidade, com exceção de Jesus Cristo, em seu estado natural, é inteiramente corrupta e completamente má, “ela é restringida de manifestar a sua corrupção em plenitude por causa da instrumentalidade da graça comum de Deus”[2]. Dessa forma, ela torna-se completamente incapaz de salvar a si mesma. O pecador, por natureza, é um contumaz e indisposto inimigo do santo Deus.

O segundo ponto, o da Eleição Incondicional coloca que antes da criação do mundo, em Sua simples e livre graça e amor, Deus elegeu a muitos pecadores para uma completa e final salvação, mas sem levar em consideração a fé ou as boas obras, ou qualquer outra coisa que lhes servisse de condição ou causa para que Ele os escolhessem. Sendo assim, a base da eleição não estava neles, mas no próprio Deus. O Senhor Deus que é suficiente em si mesmo, motivado somente pela sua boa vontade e graça, visando a sua própria glória, escolheu desde toda a eternidade muitos pecadores para a salvação e decidiu deixar os demais sob a sua justa ira, para uma punição eterna, por causa dos seus pecados.

Pelo ponto da Expiação Limitada, Calvino afirma que Cristo morreu eficazmente, o que é verdadeira salvação somente para o eleito, apesar da infinita suficiência de sua expiação e o divino chamamento a todos ao arrependimento e confiança em Cristo, prover a garantia para a proclamação do evangelho a todos os homens.

Raymond (1998) prefere, entretanto,

Os termos “expiação definitiva”, “expiação particular”, ou “expiação eficaz”, em vez de “expiação limitada”, tanto por causa de uma possível confusão da palavra “limitada”, como também, por causa de todo “limite” evangélico que a expiação possa ter em seu desígnio (o Calvinista), ou em seu poder de aplicar o seu propósito (o Arminiano)[3].

A Graça Irresistível, quarto ponto do calvinismo, aponta para o fato de que não diz que o não-eleito encontrará a graça irresistível de Deus, mas sim, que a graça salvadora de Deus não se estende igualmente a ele. Ela aponta para o fato de que o eleito é incapaz de resistir continuamente a graciosa oferta de Deus. No tempo determinado por Deus, Ele atrai os eleitos, um por um, a Si mesmo, removendo toda a sua hostilidade, resistência e oposição a Ele e Seu Cristo, produzindo o desejo de receber o Seu Filho.

Finalizando esse tópico, pela Perseverança dos Santos o eleito está eternamente seguro em Cristo, que o preserva para Si mesmo, capacitando-lhe a perseverar n’Ele até o fim dos tempos. Todos aqueles que professam ser cristãos, e se apostatam da fé (conforme 1 Tm 4: 01 – “Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios”), são como João, disse em sua primeira epístola: “Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós” (1 Jo 2: 19).

Os Calvinistas e a Política

Vários estudiosos, sejam teólogos, historiadores, cientistas políticos, economistas ou sociólogos, têm reconhecido a decidida contribuição prestada pelo calvinismo ao aperfeiçoamento das instituições políticas do mundo ocidental. As noções reformadas sobre a ordem política foram inicialmente articuladas por João Calvino e posteriormente aprofundadas em alguns pontos e modificadas em outros pelos seus sucessores.

Calvino expôs as suas idéias sobre o Estado no último dos oitenta capítulos de sua obra magna, a Instituição da Religião Cristã. Para Calvino, política e verdade espiritual são elementos inseparáveis.

Em virtude de sua reflexão de base sólida fixada nas Escrituras, o reformador tinha um elevado conceito acerca do Estado e dos governantes civis. Trouxe do apóstolo Paulo o ensinamento de que as autoridades são ministros de Deus e foram por Ele instituídas com vistas ao bem comum, de forma que isso já lhe dava a convicção de que os mesmos mereciam a obediência dos cidadãos (conforme relato na Epístola aos Romanos, capítulo 13).

Dessa forma, Calvino acentuou que a carreira pública era uma das mais nobres funções a que um cristão podia aspirar e deixou claro que os cidadãos tinham a obrigação de obedecer as leis e honrar os seus governantes e/ou magistrados. Estes, por sua vez, tinham inúmeras e graves responsabilidades diante de Deus com relação às pessoas entregues por Ele aos seus cuidados.
André Biéler (1990) relata, com relação ao dever dos governantes, que o Primeiro dever de monarca

É fundamentar vosso rei­no sobre a justiça; ora, se vós vos desinteressais da questão religiosa, se vós vos deixais ludibriar pelas calúnias daqueles que aos cristãos evangélicos chamam revolucionários a fim de evitar as embaraçosas questões que criam para eles, vós próprio vos fazeis cúmplice da injus­tiça e vosso reino não é mais do que vulgar império de salteadores! (p. 126).

Ao escrever sobre o papel do cristão com relação aos deveres políticos, Calvino estava em parte criticando os anabatistas, que tinham grande desprezo para com as instituições políticas e consideravam o exercício de cargos públicos como algo indigno de um cristão, bem como aproveitara para se por contra os diferentes grupos de anarquistas e revolucionários da época. Como a maior parte dos protestantes do século XVI, ele era favorável a uma estreita associação entre a Igreja e o Estado, desde que respeitadas cada esfera de atuação do outro.

Não encontramos referência que comprove a alegação de que Calvino teria sido o ditador de Genebra, tendo em vista que ele não exerceu nenhum cargo político naquela cidade e que, durante grande parte da sua estadia ali, teve um relacionamento bastante conturbado com os magistrados civis, sempre desejosos de interferir nos negócios da Igreja.

Embora o pensamento político de Calvino fosse essencialmente conservador, dois fatores levaram os calvinistas a adotarem teorias mais democráticas:

1. As perseguições sofridas na França, Inglaterra e Escócia;
2. O exemplo de Genebra, com o seu governo republicano.

Calvino considerava válida uma rebelião contra os governantes somente no caso de estes serem tiranos, situação esta em que não estariam sob a orientação de Deus, e, sendo assim, poderiam sofrer oposição dos cristãos.

Nas Ilhas Britânicas, o presbiterianismo, com sua ênfase no governo eclesiástico por presbíteros livremente eleitos pela comunidade, atraiu a ira de vários monarcas que não queriam abrir mão do "direito" de nomear os bispos e assim mais facilmente controlar a Igreja.

Biéler (idem) aponta que, com base no pensamento de Calvino, os cristãos são pessoas de pouca influência se comparados aos governantes e aos homens da elite burguesa, mas que apesar desta e

Sob essa fraqueza esconde-se a única e só força real, a única eficiente, a única a ter em definitivo um impacto sobre a história. Neles opera o poder divino, a Palavra de Deus, que, sozinha, fundamenta e domina do Alto vossa própria grandeza e vossa própria realeza! (p. 126).

Afirma ainda que “ninguém, com razão ainda mais forte nenhuma autoridade política, se pode esquivar de pronunciar-se em favor da verdade de que depende toda a existência dos indivíduos e das sociedades (p. 127).

Para concluir, a teologia protestante calvinista tende à valorização do indivíduo, este sendo colocado em uma relação pessoal com Deus e libertado da dependência eclesiástica. Na Igreja, ele era convocado a colaborar com seus concidadãos em algumas tarefas, a seguir: governo e administração, exercício do seu direito de voto com um forte senso de responsabilidade, a fazer a sua parte quando convocado para o serviço público, bem como também a ser educado para exercer o direito de supervisão e até mesmo de crítica dos governantes.

Fora isso, a valorização do trabalho, as oportunidades de mobilidade social, o direito à livre iniciativa e o pleno acesso à educação, todos esses característicos do protestantismo calvinista, também foram fatores decisivos para o desenvolvimento da democracia no Ocidente.

Para Calvino, em virtude do mundo ter sido criado por Deus, a Ele pertencia e estava destinado a ser, progressivamente, o Reino de Cristo, cuja instauração era uma das obrigações dos cristãos. Daí a necessidade de envolvimento com a política, com o direito, com os assuntos da economia, em resumo, com todas as esferas da sociedade.

Os calvinistas entendem que Deus é o senhor de toda a vida e, portanto, todas as áreas da atividade humana são importantes para o cristão, inclusive a esfera política. Assim sendo, deve-se evitar toda e qualquer dicotomia entre o "sagrado" e o "secular" ou "profano." Essa convicção tem levado muitos calvinistas a se envolveram com a atividade pública, entendida como um importante serviço prestado a Deus e à coletividade.

Mesmo considerando que a separação entre a Igreja e o Estado seja necessária para a democracia, os calvinistas entendem que não deve haver uma total emancipação entre suas convicções ético-religiosas e sua atuação na vida pública.

Calvino estabeleceu as bases a partir das quais se desenvolveu a ética do capitalismo democrático, em que a justiça social é deixada a Deus.

Segundo Max Weber (2001), os calvinistas trouxeram como ponto positivo

A idéia de comprovar a fé do indivíduo pelas atividades seculares. Dessa maneira, forneceu, para grupos maiores de pessoas com inclinação religiosa, um incen­tivo positivo para o ascetismo. Ao fundamentar sua ética na doutrina da predestinação, ele substituiu a aristocracia espiritual dos monges, desligada do mundo e superior a ele, pela aristocracia espiritual dos santos predestinados de Deus no mundo (p. 91).

Dessa forma, os calvinistas (em grau menor, o próprio Calvino) tiveram papel decisivo, além de na formação da ética capitalista, também na ideologia da democracia. Ao lerem a Bíblia, puderam comprovar que, no início do cristianismo, os cristãos não eram governados por bispos nomeados por uma autoridade central, o chamado patriarca (cujo patriarca de Roma veio a tornar-se o papa católico-romano), mas sim por presbíteros (padres ou pastores), estes sendo escolhidos pela comunidade a que serviam.

Segundo o calvinismo, isso pode ser comprovado nos Evangelhos, onde quando se fala de bispos (e bispos eleitos), e não do governo episcopal (por bispos nomeados) instituídos séculos depois e adotado pelas várias Igrejas Católicas, bem como pela Igreja Anglicana, pelas Igrejas Luteranas e outras igrejas protestantes.

Os discípulos de Calvino introduziram ou reintroduziram, o presbiterianismo. Destarte, às Igrejas Reformadas acrescentaram-se as Igrejas Presbiterianas, como a da Escócia. Nelas, os doutores, pastores, anciãos e diáconos são eleitos. Como, além da Igreja, para os calvinistas o mundo também é santo, no decorrer dos tempos, quiseram eles estender essa democracia do governo da Igreja para o governo mundano. Pretensão interessante, porém talvez impraticável...


Referências Bibliográficas

BIÉLER, André. O pensamento econômico e social de Calvino. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana S/C, 1990.

CHAUNU, Pierre. O tempo das reformas (1250-1550) – A Reforma Protestante. Lisboa: Edições 70, 1993.

GONZALEZ, Justo. E até os confins da terra: uma história ilustrada do Cristianismo. Vol. 6. São Paulo: Vida Nova, 1995.

LINDBERG, Carter. As Reformas na Europa. São Leopoldo: Sinodal, 2001.

REYMOND, Robert L. A New Systematic Theology of the Christian Faith (Nashville: Thomas Nelson Publishers, 1998), Apêndice E, In: www.monergismo.com. Acesso em 23/10/2007.

WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do Capitalismo. São Paulo: Martim Claret, 2001.

[1] “O Sínodo de Dort foi um sínodo nacional que teve lugar em Dordrecht, na Holanda em 1618/19, pela Igreja Reformada Holandesa, com o objectivo de regular uma séria controvérsia nas Igrejas Holandesas iniciada pela ascensão do Arminianismo. A primeira reunião do sínodo foi tida a 13 de Novembro de 1618 e a última, a 154ª foi a 9 de Maio de 1619. Foram também convidados representantes com direito de voto vindos de 8 países estrangeiros. O nome "Dort" era um nome usado na altura em inglês para a cidade holandesa de Dordrecht. O sínodo é por vezes chamado de Sínodo de Dordt, ou Sínodo de Dordrecht”. (FONTE: www.wikipedia.org. Acesso em 22/10/2007).
[2] REYMOND, Robert L. A New Systematic Theology of the Christian Faith (Nashville: Thomas Nelson Publishers, 1998), Apêndice E, In: www.monergismo.com. Acesso em 23/10/2007.
[3] REYMOND, Robert L. A New Systematic Theology of the Christian Faith (Nashville: Thomas Nelson Publishers, 1998), Apêndice E, In: www.monergismo.com. Acesso em 23/10/2007.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

O currículo entre o relativismo e o universalismo (Trecho)

Por currículo se entende, geralmente, tudo que é suposto de ser ensinado ou aprendido, segundo uma ordem determinada de programação e sob a responsabilidade de uma instituição de educação formal, nos limites de um ciclo de estudos. Por extensão, o termo me parece fazer referência ao conjunto dos conteúdos cognitivos e simbólicos (saberes, competências, representações, tendências, valores) transmitidos (de modo explícito ou implícito) nas práticas pedagógicas e nas situações de escolarização, isto é, tudo aquilo a que poderíamos chamar de dimensão cognitiva e cultural da educação escolar. Assim definido, o currículo pode ser objeto de vários tipos de enfoques:

1) analítico e descritivo: utilizado pelos sociólogos e historiadores da educação e outros representantes das ciências sociais;
2) normativo e prescritivo (ou essencialmente “crítico”): pelos filósofos da educação e todos aqueles que, desde o início das instituições de ensino, refletem (em um determinado contexto e em função de um determinado público) sobre o que deveria ou poderia ser ensinado;
3) operatório e tecnicista: pelos especialistas na elaboração e na implementação dos programas escolares, ou, finalmente,
4) “eclético”, que combina diversos aspectos (elucidação, prescrição, construção): pelos que estudam e ensinam didática.

Jean-Claude Forquin

Extraído de:
Educação & Sociedade, ano XXI, no 73, Dezembro/00


QUESTÃO PARA DEBATE:
Na escola, qual o currículo que predomina? Em sua opinião por que isso acontece?

Quem sou eu

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Professor de História, mestre em educação pela UFPE. Cristão anglicano e frade da Ordem de Santo Estevão Mártir (OSE). Secretário de Juventude da Diocese do Recife, Igreja sob autoridade Primacial da Igreja Anglicana do Cone Sul da América.